Ex-chefão que rachou cúpula do PCC pega 44 anos por morte de agente
Roberto Soriano, conhecido como Tiriça, era considerado o 02 da cúpula do PCC. Defesa recorreu e disse que ele foi julgado por “biografia”
atualizado
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Ex-integrante da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), Roberto Soriano, de 51 anos, o Tiriça, foi condenado, na noite de domingo (8/6), a 44 anos e 8 meses de prisão pelo homicídio qualificado do agente penitenciário federal Alex Belarmino de Souza, 36. A vítima foi alvo de uma emboscada quando se deslocava para o trabalho, em setembro de 2016, na cidade de Cascavel (PR).
A sentença foi anunciada às 21h11, após oito dias de julgamento, pelo juiz André Wasilewski Duzczak, do Tribunal do Júri da 13ª Vara Federal de Curitiba.
O advogado de Tiriça, Cláudio Dalledone, afirmou ao Metrópoles nesta terça-feira (10/6) que já entrou com recurso contra a condenação. “O júri julgou a biografia do acusado e não a ausência de provas”, argumentou, acrescentando que não iria comentar mais nada sobre a sentença.
Pelo assassinato do agente federal, já haviam sido condenados seis réus, em 2021; três em 2022, e outros três em 2023.
Além do homicídio, Tiriça também foi condenado por integrar associação criminosa.
O “racha” no PCC
Como mostrado pelo Metrópoles, a liderança de Marcola é contestada por três antigos aliados: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka – ambos faziam parte da alta cúpula desde 2002 –, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.
O principal motivo seria um diálogo gravado entre Marcola e agentes da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) no qual ele afirma que Tiriça seria um “psicopata”. A declaração foi usada por promotores no julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos de prisão, em 2023, como mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, 36.
Ela trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e foi fuzilada, em 2017, na mesma cidade na qual o agente federal também foi executado, com 23 tiros.
A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação. Tiriça estava para sair da cadeia caso não fosse condenado, destacou ao Metrópoles, em 2024, o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
“Esses caras [Tiriça, Abel Vida Loka e Andinho] ajudaram a fazer o PCC crescer, com eles todos na liderança. É gente do topo da pirâmide, parceiros muito próximos que, agora, são inimigos”, completou Gakiya na ocasião.
“Salves” e sentença
O promotor contou, ainda, que os dois lados da guerra na cúpula da facção transmitiram seus respectivos “salves”, como são chamados os comunicados internos do PCC, para decretar a expulsão dos rivais.
A diferença é que o grupo de Tiriça, considerado o 02 da facção até o racha, enviou a ordem apenas a outros membros importantes da organização que estão presos na Penitenciária Federal de Brasília, enquanto Marcola mandou um “salve” para fora do sistema carcerário, a fim de tentar garantir a fidelidade das lideranças do PCC que estão nas ruas, os Sintonias da Rua.
Além de rebater as acusações dos outros chefões sobre ter “delatado” Tiriça, Marcola comunicou no “salve” a expulsão dos três ex-aliados da cúpula e os “decretou” à morte.