MP denuncia Bruno Henrique por fraude em competição esportiva
Atacante do Flamengo foi denunciado por promotores do Ministério Público. Caso a denúncia seja aceita, ele a a responder como réu
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O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apresentou denúncia contra o atacante do Flamengo Bruno Henrique por suposta participação em um esquema de apostas. Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) consideraram que o jogador teria combinado a aplicação de um cartão amarelo para beneficiar apostadores.
A denúncia foi protocolada nesta quarta-feira (11/6) e acompanha o pedido de indiciamento feito pela Polícia Federal (PF), que apontou o envolvimento do atleta e de outras nove pessoas pelos crimes de estelionato e fraude em competição esportiva. O caso foi mostrado em primeira mão pelo Metrópoles.
Bruno Henrique foi denunciado pelos crimes de manipulação de resultado esportivo, estelionato consumado em coautoria e tentativa de estelionato em coautoria (duas vezes).
“Nos termos em que será adiante detalhado, a presente denúncia tem por objeto a imputação de crimes de fraude a resultado ou evento associado a competição esportiva (art. 200 Lei nº 14.597/2023), bem como de crimes de estelionato praticados em desfavor de pessoas jurídicas que atuam como agentes operadores de quota fixa, nos termos da Lei nº 14.790/2023”, diz o MPDFT.
Segundo os promotores, Bruno Henrique trocou mensagens com o irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, afirmando que receberia um cartão amarelo durante a partida entre Flamengo e Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
O relatório da PF em que o atleta foi indiciado destacou que essas conversas comprometem diretamente o jogador, ao vinculá-lo a um esquema articulado para favorecer tanto integrantes de sua família quanto um núcleo paralelo de apostadores.
Com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, cabe à Justiça decidir se a aceita ou não. Caso a denúncia seja aceita, o atacante a a responder como réu no processo criminal. Se a Justiça entender pelo arquivamento do caso, o jogador é absolvido da acusação na esfera criminal — no entanto, ele continua sendo alvo de uma investigação no âmbito da Justiça Desportiva.
O Ministério Público analisou todo o material periciado pela PF e concordou com a conclusão dos investigadores – de que Bruno Henrique está diretamente envolvido nas irregularidades, visto que o atacante avisou o irmão de que receberia o cartão amarelo.
Defesa
Em nota enviada ao Metrópoles, a defesa do jogador contesta a denúncia.
Confira:
“A denúncia oferecida pelo MPDFT, além de inteiramente insubsistente, é manifestamente aproveitadora, dado o contexto em que oferecida, coincidentemente na mesma data em que divulgada a lista de jogadores inscritos para o Super Mundial de Clubes da FIFA, na qual consta o Sr. Bruno Henrique.
Embora a medida do órgão ministerial seja oportunista, a sua defesa esclarece que as indevidas acusações formuladas serão técnica e imediatamente refutadas no processo.”
Troca de mensagens
Em uma das mensagens, datada de 29 de agosto de 2023, o irmão do atacante questiona se ele estava “pendurado” na competição, em referência à quantidade de cartões acumulados: “Ô, tio, você tá com 2 cartão no Brasileiro?”
Em resposta, o atacante escreveu: “Sim”.
Wander segue: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3, liga nós, hein? kkkk”.
O jogador responde: “Contra o Santos”.
Na sequência, o irmão dele escreve: “Daqui [a] quantas semanas?”.
Bruno Henrique diz: “Olha aí no Google”.
Wander confirma a data e pondera: “29 de outubro. Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão? kkkkkk”.
O atleta afirma: “Não vou reclamar… Só se eu entrar forte em alguém”.
O irmão, então, retruca: “Boua, já vou guardar o dinheiro. Investimento com sucesso”. (veja a troca de mensagens abaixo)
R$ 10 mil para entrar no esquema
Em 7 de outubro, investigadores encontraram outra troca de mensagens entre Bruno Henrique e o irmão, nas quais voltam a tratar sobre o recebimento de cartão amarelo no jogo contra o Santos.
Os diálogos mostram que o atacante enviou uma mensagem para Wander, a quem ele chama de “Juninho”: “Ô, Juninho. Vc consegue fazer/transferir Pix em valor alto da sua conta?”
Wander responde: “Consigo, BH. Qual valor?”.
Bruno Henrique segue: “10 conto”.
O irmão confirma: “Consigo”.
As mensagens continuam até que Bruno Henrique informa: “Vc não pode ser. Temos nomes igual”.
Na sequência, Wander pergunta: “Vai da ruim? O que era?”.
Bruno Henrique responde: “Vai. Negócio de aposta aqui”.
Para a PF, o conteúdo sugere que o irmão de Bruno Henrique se interessou pelo suposto esquema. Em seguida, Wander questiona o atacante: “Uai, dá essa ideia aí que vou apostar aqui, tô precisando de dinheiro kkkkkk”.
O jogador retruca: “Esse aqui pesado não dá pra vc, não”.
Wander insiste: “Se eu ganhar R$ 1 mil, tá bom, se for coisa certa”.
Nas mensagens, BH responde que, para entrar no esquema, seria necessário ter R$ 10 mil disponíveis semanalmente: “Tem que ter 10 k todo final de semana”.
O irmão, então, informa que o atacante poderia mandar o dinheiro para a conta de uma terceira pessoa, que rearia a ele. Bruno Henrique responde que já estaria resolvendo isso, acrescentando que com o irmão “não daria”. Wander encerra: “Entendi. Carai, viu? Meu olho até brilhou”.
Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi uma mensagem de Wander questionando o irmão se ele poderia “tomar um amarelo hoje”. Os diálogos mostram que o atacante respondeu: “Dá não, tenho 1 já”.
A partida em questão era entre Flamengo e Corinthians, disputada na Neo Química Arena, em São Paulo. Bruno Henrique, de fato, recebeu cartão amarelo na ocasião. Para a PF, isso demonstra que Wander recebia informações privilegiadas sobre quando o jogador tomaria cartões.
As conversas continuam, com um novo trecho em que Wander pergunta: “Deu certo? Conseguiu aí?”.
Bruno Henrique responde: “Deu. Lajinha. 10”.
Para a PF, a menção a “Lajinha” indica que essa pessoa teria sido usada por Bruno Henrique no esquema de apostas.
Na sequência, Wander comemora: “Boa! kkkkkk Só comemorar agora. Tá apostando vitória ou cartão, algo assim?”.
O atacante responde: “Não é nada disso, não. Parada de cavalo…”.
Diante disso, os investigadores suspeitam que as mensagens tratem de apostas fraudulentas relacionadas a corridas de cavalo. A tese é reforçada pelo cuidado de Bruno Henrique em não envolver o irmão diretamente, devido ao sobrenome em comum, e também pela fala de Wander: “Só comemorar agora”.
O trecho, segundo a PF, sugere que o resultado da aposta já era conhecido ou garantido. O Metrópoles tenta contato com o jogador.
Ligação nas vésperas do jogo
Segundo a PF, na véspera da partida entre Flamengo e Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023, Bruno Henrique ligou para o irmão para confirmar o cartão amarelo na partida. Após breve troca de mensagens, o atacante do Flamengo liga para Wander – ação que, para a PF, foi uma tentativa de avisar que forçaria o cartão.

Bruno Henrique se tornou alvo da PF após investigações apontarem que o atacante teria forçado um cartão amarelo em jogo contra o Santos, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2023, para beneficiar apostadores.
A investigação teve início após levantamento feito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 31 de julho de 2024.
A análise foi motivada por um alerta da International Betting Integrity Association (Ibia) sobre possíveis irregularidades na partida contra o Santos, realizada em 1º de novembro de 2023.
Os relatórios da CBF apresentados à PF explicavam que algumas apostas atípicas foram feitas na Kaizen Gaming por usuários novos e antigos, muitas delas registradas em Belo Horizonte (MG), cidade natal de Bruno Henrique.
Apesar de o atacante não ter antecedentes na manipulação de jogos, a CBF afirma que as apostas feitas pelos usuários, somadas ao comportamento de Bruno – que foi punido com dois cartões de advertência nesse duelo, um amarelo por falta contra um atleta do Santos e um cartão vermelho por ofender o árbitro da partida –, causaram estranhamento e geraram o alerta da Ibia.